Taxa de empreendedorismo sobe mais entre maiores de 55 anos
- 12
- Sep
Participação de pessoas entre 55 anos e 65 que abriram negócio saiu de 7% em 2012 para 10,4% em 2016. Quase metade empreende por necessidade.
Rui Martins Rosado aos 62 anos montou sua própria startup. Com experiência de trabalho em grandes corporações na área comercial e em tecnologia da informação, Rui chegou a morar na Alemanha por conta do trabalho, mas sentiu o impacto da idade dentro das empresas. “O mercado está fechado paras as pessoas mais experientes e isso de certa forma impulsiona o empreendedorismo”, diz. “Eu me sinto no auge da produtividade e posso dizer que tenho mais sonhos que meu filho”.
A população brasileira envelhece a cada ano. Nos últimos cinco anos, a população com 60 anos ou mais subiu de 25,4 milhões para 30,2 milhões — alta de 18,8%. A maior concentração de idosos foi registrada das regiões Sul e Sudeste, com 16,5% e 16%, respectivamente. No Brasil, essa faixa etária representa 14,6% conforme mostrou pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Um contingente que não quer ficar fora do mercado de trabalho. De acordo com dados do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), a taxa de empreendedorismo na faixa de 50 a 59 anos foi a que mais cresceu em 13 anos (57%), seguida justamente pela faixa etária acima dos 60 anos. A participação de pessoas entre 55 anos e 65 que abriram um negócio cresceu de 7% em 2012 para 10,4% em 2016. Ainda segundo a pesquisa, 46,8% dos empreendedores com mais de 55 anos empreendem por necessidade.
“Temos de pensar na economia da longevidade, estamos vivendo mais e o modelo de aposentadoria que existia antes, aquele que a pessoa parava de trabalhar e ficava em casa já não existe mais”, avalia Vinicius Lages, diretor de administração e finanças do Sebrae. “As pessoas também perceberam que só o valor da aposentadoria não é suficiente para manter o padrão de vida e a tendência é que busquem alternativas para complementar a renda.”
Para não ficar fora do mercado, Martins colocou o plano B em ação e criou a IdCel, uma plataforma para monitoramento de atividades utilizando geolocalização e para o desenvolvimento de soluções provendo informações para os clientes. E os planos no param, para o mês de outubro está previsto o lançamento um sistema de gestão e administração de grupos de motociclistas entregadores, o Motoka.
Ainda, de acordo com pesquisas do Sebrae sobre o perfil do potencial empreendedor aposentado, ficou evidente a disposição para empreender entre aqueles que estão chegando à aposentadoria: 1 a cada 10 tem a intenção de abrir um negócio próprio nos próximos dois anos. Seja para aumentar a renda da família, seja para ocupar o tempo ou simplesmente para fazer algo que realmente gosta, para esses pesquisados, aposentadoria significa continuar trabalhando, e muito.
“Hoje faço exatamente aquilo que gosto e o principal: ajudo a fazer as pessoas felizes”, diz Claudio Gusela, diretor geral da NDVida, plataforma que ajuda empresas a melhorar a qualidade de vida e bem-estar de seus funcionários. Gusela continua trabalhando mesmo após a aposentadoria e não pretende parar tão cedo.
Executivo de multinacionais, o engenheiro elétrico buscou na experiência pessoal a motivação para criar seu próprio negócio. “Minha primeira esposa sofreu muito com depressão e cometeu o suicídio”, conta. “Foi uma fase muito difícil e eu contei com o apoio da empresa onde trabalhava para superar essa fase”.
A dificuldade pessoal associada ao gosto por esportes motivou a criar a startup que comemorou um ano de vida e cinco empresas no portfólio. “Com a crise, muitos jovens buscam oportunidades, abrem startups e número de negócios que não vão adiante é alto porque falta maturidade, um profissional mais experiente consegue transformar uma ideia em negócio de forma mais embasada”.
Tanto Gusela como Martins participaram do InovAtiva Brasil, programa gratuito de aceleração em larga escala para negócios inovadores de qualquer setor e região do Brasil, realizado pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) e pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), com execução da Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (CERTI).
Mulheres
A pesquisa do Sebrae também mostra que a maior taxa de mulheres empreendedoras está nesta faixa etária: 61% dos empreendedores iniciais são mulheres.
Alice Leonardo Padilha aos 72 anos tem seu ateliê e trabalha como artesã. Ela começou a empreender depois da aposentadoria, aos 50 anos. “Eu me aposentei com 30 anos de trabalho, mas era muito jovem, comecei a ajudar meu filho que trabalhava com restauro de móveis antigos”, conta.
Aos poucos, Alice foi se ‘desgarrando’ e começou a produzir as suas próprias peças. Investiu em cursos e pesquisa, foi aprimorando a própria técnica. Usa madeira e objetos rústicos (palha de milho, fibras) em suas peças. “Pretendo colocar meus produtos na internet, mas no momento organizo reuniões e as vendas são realizadas em casa, no boca a boca.”
Parar? “Jamais! Tenho muita coisa para criar e experiências para compartilhar.”
(Fonte: R7 Economia)