Necessidade de investimento em tecnologia e em mão de obra especializada é maior, mas revendas de equipamentos e consultorias são alternativas mais econômicas

Dominado por grandes empresas, o mercado de segurança privada tem sentido as dificuldades impostas pela grave crise econômica - com baixo crescimento e redução do quadro de funcionários. Mas os dias difíceis podem representar uma oportunidade para quem pretende começar com um pequeno negócio nesse segmento da economia. Tudo depende do planejamento e do preparo do empreendedor.

Uma das primeiras dificuldades a serem superadas por quem quer atuar na área é driblar a predominância de concorrentes com experiência anterior em atividades de segurança - pública ou privada. A grande maioria traz no currículo a atuação anterior no setor. Além da vantagem de já conhecer o ramo de atividade, esses empresários carregam consigo uma rede de contatos para futuros contratos.

O investimento, no geral, também pode ser um inibidor para novos empreendedores. Atualmente o Estatuto da Segurança Privada prevê um capital social mínimo de R$ 150 mil, mas um novo projeto, à espera de votação no Senado (Projeto de Lei nº 4.238/12), pode aumentar este valor para R$ 500 mil. O Projeto de Lei regulamenta a atuação das empresas de segurança privada e de transporte de valores, além de disciplinar detalhes da segurança bancária. Uma das apostas do setor é que o novo texto iniba a atuação de autônomos ou de empresas em situação irregular.

Para Rodrigo Palermo, consultor do Sebrae-SP, é possível buscar oportunidades na área da segurança privada sem ter de se submeter às novas normas previstas no Estatuto da Segurança Privada. Entre elas, sugere o especialista, estão as atividades de consultoria em segurança e proteção da saúde do trabalhador (por exemplo, a organização em empresas da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, a Cipa), a venda e aluguel de câmeras, alarmes e uniformes, seleção e treinamento de profissionais, venda de seguro residencial e patrimonial e perícia patrimonial.

"Quem vai investir em uma loja de varejo, por exemplo, não precisa de um capital inicial e de capital de giro tão grande. É possível atuar como representante comercial, o que dispensa o investimento em um estoque tão grande", exemplifica o consultor. Segundo o representante do Sebrae, tanto o investimento quanto a lucratividade são muito variáveis, atrelados ao capital aportado e principalmente ao risco do negócio. "Não dá para quantificar, mas quanto maior o risco, em geral maior é a rentabilidade", acrescenta Palermo.

Outra possibilidade para quem tem interesse em começar a atuar no setor de segurança pública, mas não dispõe de recursos para um grande investimento, é se especializar em consultoria empresarial. A captação de clientes, orienta Rodrigo Palermo, pode começar nos pequenos comércios de bairro, que estão mais expostos à criminalidade em tempo de crise na economia. "Com a consultoria, você pode apresentar ao cliente formas de proteger o negócio e prevenir perdas, por exemplo, com furtos", diz

Mas o consultor do Sebrae pondera que o setor de segurança privada é muito sensível a indicações - o que fica mais difícil para quem vai começar do zero. O jeito, sugere, pode ser fazer uma boa propaganda boca a boca entre os amigos e conhecidos para que a nova empresa consiga participar de processos de cotação de preço em condomínios e comércios de bairro. Também vale a pena estudar formas de oferecer algum tipo de diferencial no serviço, algo que agregue ao serviço, para se descolar da concorrência. "É importante tentar ser uma referência no nicho em que se pretende atuar. Do contrário fica muito difícil começar do zero, sem know-how, num mercado extremamente profissionalizado", explica o especialista.

Também é importante que o futuro empreendedor esteja ciente sobre até onde vai sua responsabilidade na relação com os clientes. Os contratos costumam prever a cobertura de seguros - pagos pelo contratante ou pela prestadora de serviço, dependendo do que for combinado - para o caso de um sinistro.

É preciso estar atento aos custos com mão de obra - que é muito especializada e costuma representar forte impacto nas despesas de uma empresa desse segmento. É o cas, por exemplo, de quem pretende trabalhar com a blindagem de carros e residências, segurança em grandes eventos, transporte de executivos e segurança pessoal e empresarial.

Diretor executivo do Sindicato das Empresas de Segurança Privada, Segurança Eletrônica e Cursos de Formação do Estado de São Paulo (Sesvesp), Ronaldo Elias Pena é mais cauteloso ao falar sobre a perspectiva de novos negócios no setor. Na sua avaliação, a tendência nos últimos anos é de uma concentração de empresas para a formação de grandes grupos, o que pode esvaziar as oportunidades para os pequenos negócios. "Este é um mercado principalmente para profissionais, que exige conhecimento prévio das características do mercado, investimentos e de um elevado capital de giro", alerta.

Segundo Pena, a folga de caixa é importante porque nesse tipo de atividade os pagamentos costumam ser feitos em prazos entre 30 e 45 dias. Além disso, é preciso ter fôlego financeiro para atender às especificações dos projetos negociados com os clientes. "Um contrato para montar uma operação de segurança de uma rede bancária, por exemplo, vai exigir a contratação de pessoal especializado, a compra e a instalação de sistemas eletrônicos de controles, um contingenciamento para a compra de equipamentos adicionais, como coletes à prova de balas. Já o transporte de valores vai precisar de carro-forte, escolta armada, veículos de escolta com sistema de rastreabilidade e armamento de calibre médio", exemplifica.

O diretor executivo sugere a quem pretende abrir uma empresa nessa área e não tem experiência que procure se cercar de bons gestores especializados em avaliação de gestão de risco - este é o ponto de partida para quem pretende oferecer serviços de segurança. Este é o profissional que vai poder identificar melhor a demanda dos clientes e desenhar projetos customizados. "Afinal, também não adianta sair comprando o que há de melhor em tecnologia se não souber qual é a melhor forma de aplicá-la", adverte Pena. Dados da Federação Nacional das Empresas de Segurança e Transporte de Valores (Fenavist) mostram que a receita do setor encolheu 5% no ano passado, ao fechar em R$ 30 bilhões.

Enquanto a economia brasileira não começar a reagir, o diretor do Sevesp acha que será muito difícil a recuperação da receita das empresas de segurança privada. Segundo ele, as margens de lucro têm encolhido a cada década. Nos anos de 1960, a lucratividade chegava a cerca de 11%. Caindo para 9,3% nos anos de 1990. Hoje, diz, está em cerca de 2,5%, em média.

Esse quadro de retração no setor tem a ver com o comportamento de atividades que, no passado, costumavam representar uma grande demanda por serviços. É o caso das instituições financeiras, que fecharam centenas de agências; da indústria, que vem reduzindo turnos para adequar a produção à forte queda de demanda; e do atraso nos pagamentos do setor público, que tem passado por aperto financeiro.

Chegou ao Senado Federal em dezembro passado o Projeto de Lei 4.238/2012, aprovado na Câmara, que prevê um novo texto para o Estatuto da Segurança Privada. A expectativa de quem atua no setor é que o ambiente fique mais favorável às empresas de grande porte e dificulte a vida das pequenas e das empresas informais.

"Existem responsabilidades complexas do setor que deveriam ficar apenas com empresas capacitadas. As micro e pequenas do setor nivelaram por baixo os serviços, que se tornaram commodities de baixa qualidade e sem competitividade", diz Ronaldo Elias Pena, diretor executivo do Sindicato das Empresas de Segurança Privada, Segurança Eletrônica e Cursos de Formação do Estado de São Paulo (Sesvesp).

Para Pena, o problema ocorre devido à informalidade do setor. Com o novo texto do Estatuto da Segurança Privada, as PMEs terão de buscar nichos não contemplados pelas novas regras, como venda de equipamentos. O projeto proíbe a prestação de alguns tipos de serviço de segurança privada por autônomos e cooperativas sempre que houver a necessidade de autorização da Polícia Federal para o seu funcionamento. É o caso de vigilância patrimonial, segurança de transportes coletivos, monitoramento de sistemas eletrônicos de segurança e rastreamento, escolta de transporte de bens e transporte de valores.

As novas regras vão aumentar os requisitos técnicos e financeiros das empresas, como a quantidade de veículos utilizados na prestação dos serviços e quantidade mínima e qualificação dos profissionais. Também haverá exigência quanto ao capital social mínimo para a obtenção de autorização de funcionamento, segundo o tipo de serviço. Empresas de transporte de valores terão a exigência de R$ 2 milhões. As que atuarem com o gerenciamento de risco precisarão ter capital social mínimo de R$ 200 mil. As demais empresas, de R$ 500 mil. O valor poderá ser reduzido para R$ 125 mil as que os profissionais não atuarem com armas.

(Fonte: DCI)